quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

JOSÉ LINS DO REGO

A DOCE AMARGURA DO FINAL DE UM CICLO
BANGUÊ: A ESTÉTICA DO OCASO
DOUGLAS MENEZES

A linguagem telúrica, o conteúdo melancólico, a tristeza que paira em cada página que circunda os personagens, o apocalipse de um ciclo socioeconômico que aprofundou o capitalismo dependente do início do século vinte e aumentou a miséria do camponês, levando à falência centenas de senhores de engenhos na zona canavieira nordestina. Este o universo do escritor paraibano. Triste como o povo. Sofrido como o povo. Arte simbolizando decadência. A doce amargura do final de um período.

José Lins do Rego não só no enredo, mas na ênfase às paisagens, na formação dos personagens, buscou, na obra Banguê, evidenciar, em tudo, a dolorosa transformação das pequenas fábricas de açúcar em poderosas usinas, afirmando o capitalismo e tornando o povo mais miserável.

Analisar esse romance é também vislumbrar um painel histórico e viajar por uma época poética, fazendo-nos sentir o gosto do mel, o cheiro do açúcar, mesmo que esse cheiro e gosto sejam amargos para a gente sofrida, para aqueles que preferiam viver como escravos, porque as máquinas das usinas lhes tiraram tudo, até mesmo o “pirão” dado de esmola pelos donos de engenho.

Estudar a arte da decadência em Banguê, é fazer uma reflexão, que embora passadista, nos faz pensar no tempo de hoje. Tempo ainda escuro, injusto, concentrador de renda. Um tempo que precisamos contar e cantar com isenção, trazendo a marca de que ser omisso, é concordar com o sofrimento de uma gente que padece há mais de quinhentos anos.

Esse livro não vai morrer tão cedo, pois é vivo enquanto história e enquanto houver gente com fome. Nele, a beleza no aparente feio; a fealdade no belo apenas para os olhos.


                                           Engenho de José Lins


A doce amargura do final de um ciclo. Juntos, em sua obra, a memória e a ficção. A conotação que serve à sociologia. A transfiguração do real é, na verdade, o suporte para que entendamos sua voz. Entendamos essa realidade tão viva que ora é tratada como sociologia, ora é a mais pura ficção, cuja literariedade está, justamente, em tecer uma linguagem aproximada do tempo e espaço onde sua obra é produzida.

Injusto dizer do paraibano ser ele apenas um memorialista, um menino de engenho relaxado em relação ao ofício de ficcionista. Certo dizer que em sua obra a memória é constante. Em tudo o que se escreve há um pouco da vida do artista. Pode-se mesmo constatar: em seus livro há muito do que ele viveu, notadamente na infância. Mas inegável, também, é confirmar que O livro nos aproxima da visão de uma estética da decadência: Banguê. Nele, o tratamento dado é de uma linguagem que combina com a intenção maior: explicitar o momento decadente da zona canavieira nordestina. E mais ainda, vislumbrar a perplexidade do povo, vítima de uma fatalidade que dura séculos. Explica-se o fator econômico de forma extremamente literária. Literatura, nada mais que isso: entender a economia de uma região e de um ciclo de uma forma figurada, com personagens bem delineados, e alguns até com densidade psicológica. Injusto encontrar o autor nessa obra. A não ser no cenário vivenciado por ele na infância. Banguê é obra de ficção madura, sensível, dentro do espírito do Regionalismo Moderno, notadamente no discurso oral da linguagem, que nos aproxima da fala do homem comum. O livro, uma música. A sinfonia do melancólico. Um canto que nos faz sentir o cheiro da cana, o doce do melaço, o gosto sensível dos frutos daqui. E que, ao mesmo tempo, nos traz o aroma de suor do pobre homem do eito.

O odor acre do sangue derramado, daqueles que fazem a riqueza dos outros e não têm nada. O perfume nauseabundo das crianças amarelas e famintas, sujas no corpo, exalando a diarreia que a fome e os vermes entranharam em suas vidas; elas limpas na alma, essas crianças, porém.

A verdade é que, em Banguê , a tristeza é a tônica. O autor, obcecado em fixar a decadência de um período, deu unidade temática ao romance. O desânimo contagia a obra. Desânimo intencional que não tira o vigor do livro. Os seres principais envolvidos no enredo evidenciam a postura ideológica de José Lins do Rego. , Carlos Melo, José Paulino, entre outros, são agentes sociais, são a fala do autor, são os pensamentos vivos de quem nasceu e viveu grande parte da existência naquele mundo regional, tão particular, mas, porque as dores do homem estão em todo canto, ao mesmo tempo universal. Miseráveis e injustiçados são vítimas em qualquer lugar do mundo.

Há de observar-se no romance além do aspecto triste, o lado telúrico, inconfundível, e o colorido que dá movimento à tristeza da história, além de um brasileirismo calcado na paisagem canavieira, no monótono arrastado do carro-de-boi, no “banzo” presente em tudo. Isto fez o crítico Otto Maria Carpeaux afirmar: “José Lins é brasileiríssimo. Grande Literatura. São os seus romances um grande momento. Os historiadores do futuro aproveitar-se-ão desse documento para reconstruir todo um mundo. Essa obra não morre tão cedo. É eternamente triste como o povo. É o trovador trágico da província”.

O bafejo de morte que ronda o livro nos leva a um mundo que, ao contrário, é só vida. Isto porque o fatalismo ali encontrado nos remete à luta instintiva pela sobrevivência. Locomovem-se, os personagens, mesmo caminhando para um final anunciado, para um futuro de aniquilamento.

O que entendemos, então, é que a estética da decadência só foi possível ser evidenciada por conta da espontaneidade da linguagem, sem a qual o mundo expresso perderia sua autenticidade. Por isso, a obra de José Lins do Rego é vista como algo instintivo, natural, fluente, melancólico, triste, saudoso, passadista, poético. E Otto Maria, em um prefácio de Fogo Morto, vem colocar foros de verdade no que dissemos até agora: “A obra de José Lins é ele mesmo. É profundamente triste. É uma epopeia da tristeza, da tristeza da sua terra e da sua gente, da tristeza do Brasil. Na tremenda saúde física de José Lins do Rego há a consciência desesperada de todas as doenças possíveis e da morte certa. Há na sua obra a consciência de que tudo está condenado a adoecer, a morrer, a apodrecer. Há a certeza da decadência dos seus engenhos e dos seus avós, de toda essa gente que produziu, como último produto, o homem engraçado e triste que lhe erigiu o monumento. É grande Literatura”.

Um outro aspecto em Banguê, que facilita a compreensão da intencionalidade do autor em fixar o mundo decadente dos engenhos ou o fim desse mundo, é o fato do escritor ser um contador de histórias, um dos últimos. A linearidade de sua narrativa está em extinção. Hoje se busca um texto mais complexo e introspectivo. É como se o seu modo de contar morresse com os engenhos e a derrocada dos personagens.

A visão de decadência, no entanto, nos aparece nítida nos personagens marcantes no romance. É tese confirmada. São eles, os seres criados e evocados que completam o conjunto final de um ciclo. Em Banguê, dois deles sintetizam o tom sepulcral. A hora da morte, o lutar em vão pela continuidade do que está irremediavelmente perdido. José Paulino é o patriarca do final dos tempos. Os banguês tragados pelas usinas, mecanizadas, trazendo o progresso e o desemprego para milhares de camponeses semiescravos, mas, ainda assim, com seu pedaço de terra do engenho para plantar o que comer. Sintomático, logo no inicio da história, a constatação do personagem-narrador Carlos Melo, como uma cortina se abrindo, desnudando uma realidade sem fantasia, sem romantismo, doce amargura: “ O meu avô passava no quarto sem olhar. Na mesa não tinha mais aquela alegria de outrora. Falava da seca, do algodão em baixa, tudo o que não me interessava de perto”.

Deprimente Carlos Melo na confissão exageradamente humana. Poeticamente humana. Sensivelmente humana. Tão a gosto de José Lins do Rego: “ Ele era tudo para mim. Amava-o imensamente, sem ele saber. Via a sua caminhada para a morte, sentindo que todo o Santa Rosa desaparecia com ele”. E a frase que é uma sentença: “ Começava a sentir a decadência do meu avô”.

E como todas as histórias de fim de tempo, também essa traz reminiscências: “ Nos outros tempos, o velho José Paulino não parava, a gritar para todos os cantos. Montava a cavalo para ver o corte, gritava para os carreiros, para os maquinistas, mandava recados para o mestre de açúcar, para os caldeiros. Nada lhe parecia feito, tido ainda dependia de suas ordens. Comia depressa e saia para sua torre de comando, que estava em todos os lados do seu navio”.

E como os personagens de José Lins do Rego são fortes na incessante busca do passado! Na lembrança de que o bom já passou, recordando Chico Buarque no início de carreira. Um Realismo romântico. A evidência: hoje é o ruim, o pior está para acontecer. O progresso esmaga a esperança, e o refúgio é o pretérito recente, presente, como um passado atual. O neto que vai fracassar, e, num átimo, volta ao presente e pressente o início do fim: “Quando passava pela porta do meu quarto, eu sentia que com ele se ia todo o velho José Paulino. Tio Juca falhara, e os netos não davam para nada . E a morte rondava-lhe a cama de couro. Oitenta e seis anos já eram um fim de vida. Mas o via de longe, dormia a noite toda, acordava de madrugada, andava por toda a parte. Não me iludia, entretanto, com essa resistência. Um dia ou outro, cairia” (Banguê).

O que se nota é que nem toda a dignidade do coronel José Paulino consegue trazer um fio de esperança para que algo de bom aconteça no ambiente do romance. O envelhecimento do modelo econômico é o envelhecimento do patriarca. Sua morte não possui a glória dos heróis que parecem morrer felizes. Ele, uma árvore desfolhada pelo tempo, fragilizada até a raiz, pois os seus não continuam sua obra. Os herdeiros representam o fracasso. O neto, pusilânime, não consegue dominar os miseráveis que o coronel conseguira trazer sob domínio, a flor e ferro. Árvore que cai, porque a raiz está apodrecida, carcomida pelo atraso.

Carlos Melo fracassa em tudo: na profissão, no amor, no comando do engenho. Mas ele é apenas a peça de uma engrenagem já enferrujada. O rolo compressor do novo momento econômico o arrasta, como a todos. É o progresso do subdesenvolvimento, onde a máquina que facilita a produção, aumenta a desigualdade entre os homens, concentra a riqueza e faz a vida mais sofrida, principalmente para os eternos párias do campo. Melhor ser escravo de Zé Paulino, a ser expulso de suas casas pela usina. Esta a lógica da inconsciente massa de camponeses do início do século vinte. Assim, o personagem- narrador de Banguê entrança-se no emaranhado de uma teia sem fim. Labirinto de saída inexistente. Resta a fuga. O desaparecer em busca de um lugar: o esquecimento.

Em Banguê, infeliz, sempre, o destino dos personagens verticais. Todos caminhando para o vazio.

E o romance, no final, atesta, de modo poético, que todos os personagens ou “viajam” para a morte, ou fogem a lugar nenhum. A síndrome apocalíptica de uma época atinge a todos, mesmo os que se beneficiam da derrocada dos outros. Exército de infelizes: ricos e pobres.



DOUGLAS MENEZES É FORMADO EM LETRAS PELA UNICAP E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL PELA UFPE. PROFESSOR DAS REDES OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO. PÓS GRADUADO EM LITERATURA BRASILEIRA, PELA FAINTIVISA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE TEXTO PELA UFPE. É MEMBRO DA ACADEMIA CABENSE DE LETRAS.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ABERTAS INSCRIÇÕES PARA O CURSO DE GESTÃO EM RESTAURO


Estão abertas as inscrições para 12ª Edição do Curso de Gestão de Restauro e Prática de Obras de Conservação e Restauro do Patrimônio Cultural oferecido pelo CECI em parceria com Universidade Federal de Pernambuco - UFPE.

O Curso é uma iniciativa pioneira no Brasil para capacitação e aperfeiçoamento de profissionais e interessados em atuarem no campo preservação, com foco em execução de obras e serviços em edificações culturais.

Desde sua primeira edição, o curso vem oferecendo aos participantes o contato direto com as práticas tradicionais e as técnicas mais avançadas sobre as habilidades de um gestor nos âmbitos conceituais, técnicos e humanos, para que se constitua a necessidade de se romper com paradigmas e dogmas.

Nessa edição, além da grade regular do curso, é oferecido, ao participante à oportunidade de um aprofundamento complementar, à escolha do aluno, em técnicas específicas de intervenções nas áreas de cantaria, pintura, metais ferrosos e não ferrosos, azulejos históricos, estuque, finto-mármore, esculturas de madeira e ladrilhos e mosaicos.

O curso possui carga horária de 390 horas/aulas e está dividido em módulos: Módulo Virtual, realizado por meio da tecnologia de EAD/Ensinar/Virtus-UFPE (Ensino à Distância) e Módulo Presencial, através de método pedagógico de interação direta entre aluno, professor, mestres de ofícios e artesãos-operários num encontro de um mês (30 dias) numa cidade histórica de Pernambuco e viagem de estudos. Em caso de o aluno fazer as disciplinas optativas, a carga horária final totalizará 480 horas.

Estão disponíveis apenas 30 vagas e as inscrições já podem ser feitas através do site www.ceci-br.org.

Para mais informações, entre em contato: +55 21 81 34393445 ou 34291754 ou através do e-mail: restauro@ceci-br.org

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Manuel: Essa Bandeira Pernambucana

Douglas Menezes

Relendo outro dia a obra de Manuel Bandeira, voltei a impressionar-me com o conteúdo humano do trabalho artístico do poeta pernambucano. Não que pairasse sobre mim alguma dúvida em relação à qualidade poética desse recifense maior. Digo mesmo que todo brasileiro sensível deveria ler a poesia de Bandeira. O que afirmo, no entanto, cheio de encantamento é que o seu legado, repleto de humanidade, traz, sobretudo, uma atualidade que não sente a passagem do tempo. Isto porque há, hoje no mundo, um novo sopro de humanismo fazendo frente ao desregrado materialismo tecnológico.

Em Bandeira, a fusão simplicidade, conteúdo profundo e ternura humana são uma constante. Mesmo nos poemas intimistas onde o poeta deixa transparecer sua solidão, sua tristeza por não ter sido um homem comum, não se encontra gestos de revolta, mas de resignada melancolia: “Vi uma estrela tão alta! / Vi uma estrela tão fria! / Vi uma estrela luzindo / Na minha vida vazia”.

Tuberculoso desde jovem, solitário, mas muito respeitado, sempre esperando morrer no próximo mês, Bandeira possuía um senso de amor às pessoas muito raro. Um humanismo que só os grandes espíritos atingem na passagem aqui pela terra. E esse carinho foi expresso, principalmente, em relação a seres humildes, a pessoas anônimas, que não são notícias: “Irene preta / Irene boa / Irene sempre de bom humor. / Imagino Irene entrando no céu: / - Licença, meu branco! / E São Pedro bonachão;/ -Entra, Irene. Você não precisa pedir licença”.

Manuel foi um solitário, solidário aos outros. Cantou o amor que não teve. Cantou a mulher que não possuiu. Mas inventou palavras para ela: “Beijo pouco falo menos ainda. / Mas invento palavras/ Que traduzem a ternura mais funda / E mais cotidiana. / Inventei, por exemplo, o verbo teadorar. / Intransitivo: / Teadoro , Teodora”.

A solidariedade social também está presente em sua obra, como forma de denunciar a miséria , a injustiça e a grande dívida social deste país para com os pobres: “ Vi ontem um bicho/ Na imundície do pátio / Catando comida entre os detritos. / Quando achava alguma coisa, / Não examinava nem cheirava: /Engolia com voracidade. / O bicho não era um cão, / Não era um gato,/ Não era um rato. / O bicho, meu Deus, era um homem”.

No seu grande texto confessional, a visão da vida que queria ter, e não pôde. Mesmo ali, nada de revolta e sim, uma fantasia, a criação de um mundo hipotético, como se não quisesse incomodar o próximo com sua dor real:”Vou-me embora pra Pasárgada/ Aqui eu não sou feliz/ Lá a existência é uma aventura/ De tal modo inconseqüente/ Que Joana a Louca de Espanha / Rainha a falsa demente / Vem a ser contra-parente / Da nora que nunca tive”.

Enfim, não cabe aqui, em poucas linhas, dizer do valor que possui, por ser portentosa, grandiosa, a Literatura de Bandeira. Isto é apenas um tributo humilde.

A poesia de Bandeira, na verdade, é diamante. É um sol que não se apaga. É lua cheia sobre o mar. Um acalanto que nos faz dormir. Um céu cheio de azul. Os olhos verdes da moça, confundindo-se com o canavial. É a fruta doce deste lugar. Pois ele, Manuel, afinal, é a Bandeira maior de Pernambuco.

*Douglas Menezes é professor, escritor e da Academia Cabense de Letras.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

HISTÓRIA DE PERNAMBUCO MAIS ACESSÍVEL


Um convênio firmado entre a Biblioteca Nacional, a Academia Brasileira de Letras e o IAHGP permitiu que cerca de 30 mil páginas de documentos históricos de interesse para Pernambuco fossem digitalizados e microfilmados. Estes documentos pertencem ao acervo da Biblioteca Nacional e foram produzidos entre os séculos XVI e XIX. A iniciativa partiu do Associado Roberto Cavalcanti e foi levada a cabo com o apoio da Academia Brasileira de Letras, presidida atualmente pelo pernambucano Marco V. Vilaça. As cópias em suporte digital e em microfilmes foram entregues à Presidente do IAHGP, Dra. Margarida Cantarelli, em solenidade realizada no Rio de Janeiro no passado dia 30 de agosto. Também foi produzido um catálogo dos documentos. Em breve será possível consultar todo este material no IAHGP e on-line pelo site da instituição.

Atenciosamente,
Equipe IAHGP

Acesse: http://www.institutoarqueologico.com.br/

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

REFLEXÕES DE MULHERES ILUSTRES



"Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida removendo pedras e plantando flores."

Cora Coralina, poetisa


" Há dois tipos de pessoas: as que fazem as coisas e as que ficam com os louros. Procure ficar no primeiro grupo: há menos competição lá."

Indira Gandhi, estadista


"Aprendi com as primaveras a me deixar cortar e voltar inteira."

Cecília Meireles, poetisa


"Amor é como mercúrio na mão. Deixe a mão aberta e ele permanecerá: agarre-o firme e ele escapará."

Dorothy Parker, escritora


"Ninguém pode escolher como vai morrer ou quando. Só podemos decidir como viver para que não tenha sido em vão."

Joan Baez, cantora


"Dai-me, Senhor, a preserverança das ondas do mar que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço,"

Gabriela Mistral, poetisa


"Não tenho tempo de desfraldar outra bandeira que não seja a da compreensão, do encontro e do entendimento entre as pessoas."

Elis Regina, cantora


"Quando nada é certo, tudo é possível."

Margareth Drabble, escritora


"Quem não sabe chorar de todo o coração também não sabe rir."

Golda Meir, estadista


"Nada na vida deve ser temido, somente compreendido. Agora é hora de compreender mais para temer menos."

Marie Curie, física


"Quando precisar que algo seja dito chame um homem. Quando quiser que algo seja feito chame uma mulher."

Margareth Tatcher, estadista


"Vamos! Corra a fazer alguma obra de caridade!"

Santa Terezinha, quando notava tristeza nalgum semelhante



" Ri, alegremente e o mundo rirá contigo: chora e chorarás sozinho. Esta velha e boa Terra precisa pedir emprestada qualquer alegria, porquanto já tem aborrecimento de sobra."

Ella Wilcox, poetisa


"Amor não tem nada a ver com o que esperas conseguir, apenas com o que esperas dar: quer dizer, tudo."

Katharine Hepburn


"O fanático é um homem com os dois pés plantados firmemente nas nuvens."

Eleanor Roosevelt


"Quando uma porta da felicidade se fecha, outra se abre. Muitas vezes ficamos tanto tempo a olhar para a porta fechada que não vemos a que se abriu."
 
Helen Keller

Nota: cega, surda desde bebé, Helen tornou-se educadora e advogada. Revelou uma incrível capacidade de superação e notável inteligência .



"O futuro não traz nem nos dá nada, Nós é que, para construí-lo, devemos dar-lhe tudo."

Simone weil, filósofa e ativista


" Não devemos permitir que alguém se afaste de nós sem se sentir melhor e mais feliz."

Madre Teresa de Calcutá

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

DEPURANDO AGOSTO

Douglas Menezes

Juliana não nasceu em julho. Agosto prenuncia a primavera. Os ventos fortes não só movem moinhos, mas afastam os males todos da vida. Assim é Agosto de Mauro poeta Mota, poeta maior. Frio caloroso, como abraço infantil. Nas vozes da descrença, a crença otimista em “quando setembro chegar”. Na lembrança do menino velho os ensaios alegres para o Sete de Setembro, manhãs cheirosas na estrada de Barreiros. Também em Agosto, o segredo da primeira paixão, nunca revelado, a voz do alumbramento inicial, na frase que foi uma senha: “Como você é tímido!” Também em Agosto o olhar peixinhos no canal que corta o Epitácio Pessoa. Ela junto, também em silêncio. Recolhimento que sempre marcou o menino retraído.

Agosto dos meus sonhos de futuro, nem sempre realizados. Agosto que trouxe o título ao meu time dez anos depois. Agosto de dona Tereza, a mãe, e do irmão. Também do menino ansioso nas noites anteriores às manhãs radiantes das filmagens do filme O Progresso do irmão Roberto, nos canaviais ainda doces do Cabo dessa minha infância. O menino ator, junto com a prima Marisa. O menino sentindo-se valorizado em mais um sonho que não se fez verdade. O menino de rumo incerto, com medo de papafigo e alma de outro mundo se imaginava ator, e Agosto fez isso.

Agosto é bom. É só querer que seja. Nele, os primeiros acordes de violão mal tocado. Nele, a algazarra dos adolescentes no retorno ao aprendizado das aulas. Chuva pouca, em Agosto, com cheiro de terra molhada e fruto verdoso. Mês do gosto maior, na abertura do sol brilhante de meses. Nunca tempestuoso. Enseada agitada, um pouco, preparando a tranquilidade acolhedora dos corpos morenos.

Nele, o destemor das chuvas. Nele, o reconstruir de julho, voz de esperança dos que perderam tudo. Agosto sem o céu carrancudo dando carão na gente. Agosto dos namorados sem guarda-chuvas, já nas praças colorindo a vida. Agosto branco, puro, depurado, anunciando a primavera.

Agosto de 2011.

*Douglas Menezes é da Academia Cabense de Letras.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

REFLEXÃO

“A ilustração é a saída do homem de sua menoridade, mediocridade. Tal menoridade, da qual ele próprio é o culpado, consiste na incapacidade de utilizar sua inteligência, dispensando o comando alheio. A causa desta incapacidade não é um defeito da inteligência, mas a falta de coragem e decisão de utilizar, por conta própria, sua incapacidade racional.”

(Immanoel Kant)

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR: 187 ANOS



Há exatamente 187 anos, proclamou-se em Pernambuco a Confederação do Equador. O movimento foi uma reação à política absolutista de Pedro I que, em 1823, dissolvera a Assembleia Constituinte para em seguida outorgar uma Constituição que lhe garantia amplos poderes. O golpe autocrático do Imperador anulava as possibilidades de se estabelecer no Brasil um Estado liberal com equilíbrio de poderes entre as províncias, concentrando as decisões na figura do monarca e na corte carioca. O Typhis Pernambucano, periódico redigido pelo carmelita Frei Caneca, denunciava: “a massa da Província aborrece e detesta todo o governo arbitrário, iliberal, despótico e tirânico, tenha ele o nome que tiver, venha revestido da força que vier. Do Rio nada, nada, não queremos nada!”. Pernambuco que já havia se erguido contra o despotismo bragantino em 1817, voltou a alçar-se, dessa vez, pela mão de Manuel de Carvalho Paes de Andrade. Proclamou-se uma república a qual outras províncias do norte foram instadas a se unir. O pesquisador Carlos Bezerra Cavalcanti chama a atenção ao pouco destaque que a data tem tido nos últimos anos: “esta data já chegou até a ser feriado em Pernambuco, atualmente, esta terra esquece seus feitos, seus fatos relevantes e seus grandes heróis, entre eles o Frei Joaquim do Amor Divino Caneca”. Cavalcanti ressalta a grandeza da figura de Caneca. Nascido no Recife em 1779, Caneca ingressou na ordem carmelita aos 16 anos de idade e sempre se destacou pela inteligência. Verdadeiro porta-voz do grito de Pernambuco contra a tirania pagou com a própria vida pela defesa da liberdade. Por sua participação no movimento da Confederação do Equador, acabou condenado à forca, tendo sido finalmente arcabuzado em 13 de janeiro de 1825 por não haver carrasco disposto a cumprir a aviltante sentença original. Como castigo pelo movimento, o governo imperial usurpou mais da metade do território pernambucano, desmembrando a comarca do São Francisco que permanece, até hoje, provisoriamente anexada ao território da Bahia. O IAHGP presta aqui suas homenagens aos bravos pernambucanos que em 1824 ousaram sonhar com um projeto de Estado onde houvesse mais liberdade.

Do IAHGP http://www.institutoarqueologico.com.br/

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SEXTA DE LETRAS ADIADO


A ACADEMIA CABENSE DE LETRAS comunica o adiamento do SEXTA DE LETRAS que aconteceria nesta sexta-feira, dia 5/08, quando seria prestada homenagem a MILTON LINS, membro da ACL e da Academia Pernambucana de Letras.

O evento foi adiado por conta de uma cirurgia a que teve que se submeter o homenageado, o que o impede de comparecer à Câmara de Vereadores do Cabo, onde seria homenageado. Uma outra data será anunciada pela Academia.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Médico e escritor Milton Lins receberá homenagem do presidente da APL



Por Tereza Soares

O médico, contista e tradutor pernambucano Milton Lins será o homenageado da Academia Cabese de Letras (ACL) na programação do projeto “Sexta de Letras”, que acontece nesta sexta-feira, 05 de agosto, a partir das 19h, na Câmara de Vereadores do Cabo. O palestrante será o presidente da Academia Pernambucana de Letras, Waldênio Porto, que proferirá palestra para falar não dos feitos de Milton Felipe de Albuquerque Lins como cirurgião, mas como importante escritor. Foi o melhor tradutor brasileiro em 2010, ganhador do Prêmio Odorico Mendes, outorgado pela Academia Brasileira de Letras. Milton Lins é um dos 15 membros da ACL, e pertence a entidades como Sociedade Brasileira de Médicos Escritores (SOBRAMES), Academia Pernambucana de Letras, Academia de Letras e Artes do Nordeste, União Brasileira de Escritores e a União de Médicos Escritores e Artistas Lusófonos - UMEAL. Publicou 13 livros ao longo de sua carreira, entre eles, Rimbaud em Metro e Rima, considerada um desafio entre os eruditos, e Sonetos de William Shakespeare. O Projeto Sexta de Letras está no segundo módulo e prosseguirá até dezembro com outras palestras. O espaço é aberto à população.

Tereza Soares é da Academia Cabense de Letras e assessora de Imprensa.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

UMA VIDA DE PROBABILIDADES


Viver em busca da felicidade, esse é o chavão eterno do homem, que muitas vezes nem mede as consequências para atingi-lo. Daí ele se depara com os conflitos existenciais inerentes à própria formação humana. Vive-se uma existência de probabilidades, onde as paixões se confundem com os acertos e os induzem a permanecer nessa estrada de tentativas, complementada de erros e frustrações.

Torna-se imprescindível, uma postura equilibrada principalmente na tomada de decisões, pois os posicionamentos, muitas vezes, escapam à normalidade, ou seja, o senso de justiça, a imparcialidade. Como é difícil o homem transitar sem se deixar desviar pelas tentações alienatórias! De forma contumaz, sem perceber, subitamente, ele está totalmente mergulhado nessa avalanche destruidora, servindo de conforto, simplesmente, o fato óbvio dele não ser o único.

Ter uma visão ampla com uma consciência prática, observando todas as variantes possíveis, torna-se muito difícil, principalmente nessa enxurrada de supérfluos, de forma enlouquecedora, incentivada pela globalização diante das novas tecnologias.

Como fica o cidadão simples que depende dessas soluções e desses apoios? Está Cada vez mais difícil uma resposta coerente e esses resultados de probabilidades inconsequentes transmitem a impressão que vem de muito longe, desde as cavernas, tendo ainda que o acompanhar por um longo período.

É imprescindível continuar mantendo a crença em Deus que é o Grande Arquiteto do Universo, só ele ensinará o caminho da verdadeira iluminação, sem os ranços opacos da intolerância, do preconceito, da corrupção, da tirania, dos erros e principalmente da ignorância...

João Sávio Sampaio Saraiva é membro da ACL Academia Cabense de Letras e da AMLO Academia Maçônica de Letra de Olinda.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

SABER VIVER



Por Cora Coralina

Não sei... Se a vida é curta
Ou longa demais pra nós,
Mas sei que nada do que vivemos
Tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que corre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
Não seja nem curta,
Nem longa demais,
Mas que seja intensa,
Verdadeira, pura...
Enquanto durar.

Cora Coralina , pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985), é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o jornal de poemas femininos "A Rosa". Em 1910, seu primeiro conto, "Tragédia na Roça", é publicado no "Anuário Histórico e Geográfico do Estado de Goiás", já com o pseudônimo de Cora Coralina. Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas, com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato, em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP). Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que, em 1965, lança seu primeiro livro, "O Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais". Em 1976, é lançado "Meu Livro de Cordel", pela editora Cultura Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feitio, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a faz ficar conhecida em todo o Brasil.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

MARÍLIA



CONTO: DOUGLAS MENEZES

AGOSTO DE 1979 – PERÍODO DE CHUMBO NO BRASIL.

Você não entendeu, Marília, quando eu quis explicar o fato. Quando eu falei sorridente que iria com eles, que iria com a gente, que iria com os estudantes. Hoje, Marília, o silêncio e esse olhar fixo na lâmpada reflete o pavor sedimentado na existência vazia. E os raios elétricos emitidos tornam-se vermelhos, a cor daquele sangue que empapou a pista molhada. Não, Marília, não foi só o mau presságio, foi a tendência ao fracasso, o medo enraizado na poça de sangue. E agora tudo caótico, desintegrado, a partir do momento em que você não entendeu e sorriu zombando. Sorriu o riso que me humilhou, que me deixou mudo por minutos e minutos e que graças a ele permaneço hoje, ainda, e como! Com a cabeça fora do corpo, flutuando, misturada às imagens inquietantes. Agora, apenas o plasma preenche os espaços. O plasma e os gritos horríveis: comunistas, comunistas! O sangue e os gritos, a cabeça e o corpo, elementos cáusticos que se entrelaçam, num perfeito emolduramento plástico. E não adiantou a comparação poética que eu fiz para lhe agradar. A massa compacta igual ao seu andar, firme e altivo. Você novamente sorriu. Sorriu o riso da vergonha para mim, irônico, carga cruel. E na ironia, a palavra que rasgou-me a alma: festivos. Mas havia um motivo justo, tentei explicar, tiravam nossos direitos conquistados com muita luta e sacrifício. Não adiantou. Você não deu importância. Nós não queríamos apanhar diante do povo. Por que falou isso, Marília? Há um equívoco, tentei clarear as coisas, talvez esteja com medo. Medo eu? Aí você entendeu e exasperou-se, sentiu-se ofendida pela insinuação, o orgulho atingido. Jogou-me na cara, então, o carro emprestado, o dinheiro que dava às vezes pra comprar material, comprar tinta, cola, papel, jogou-me na cara. Já sua figura esvaia-se de mim, lentamente, inflamável que escapa da mão e desaparece. Sua voz tentou consertar: a ofensa foi sua, eu não tenho medo de nada, mas não vou ser bucha de canhão pros outros. Eu calado. Marília, você não mais minha, irremediavelmente perdida. Nós dois no silêncio sem fim. Nós dois no silêncio sem fim. Nós dois no túnel escuro, lá fora, as coisas se clareando. Iniciou-se, enfim, o último momento. Foi como um aviso: suas mãos nos meus cabelos. A gente olhou a solidão ao lado, apenas o mato do campus como testemunha. Eu olhei profundamente em seus olhos. Ao olhos incendiaram-se e houve finalmente a voz de comando: queiram ou não sairemos às ruas. É um direito nosso! Meus olhos brilharam. Conheceriam nossa força, a força dos estudantes. Quase tudo preparado. Do campus à Conde da Boa Vista, o ponto máximo na Pracinha. Todo povo saberia dos nossos problemas. Mostraríamos a força da coesão. Brilhando ainda mais meus olhos, Marília. O desejo não era fogo brando. Beijei-lhe como pude, onde pude. Você, eu sabia, já naquele momento se despedia. Fim de tarde, e sua mão se fez encantada, nervosa e leve, que percorreu meu corpo, um frio medonho sob a roupa. A massa compacta partia aos gritos. As mãos todas unidas se fizeram encantadas, seguravam faixas e cartazes, movimento brusco e leve. Milhares de cabeça, um só pensamento. Já a Caxangá. Marcha penosa, necessária, porém. A população um pouco assustada. Gritos e discursos sem fim. Alguém gritou: fala, Paulo! De momento a momento a gente parava e um companheiro lançava as imprecações. Depois a marcha era reiniciada, e a uma certo tempo: fala, Paulo, agora! Eu louco só pronunciei seu nome, completamente alucinado. Só um: Marília. Voz cortada, sufocada. O calor do corpo, o calor total. Você na entrega e na posse, nem parecia ser a última vez. Você amando, Marília, quase aos gritos, capaz de alguém ouvir. Você gritando no quase êxtase. Ei gritando, nós todos gritando no quase êxtase à entrada da Conde da Boa Vista. Partíamos para uma guerra, sem violência, esperávamos. No entanto, a proibição. Não devíamos sair às ruas, ordem expressa. Reuniões, revolta, explosão. A gente continuaria, de qualquer jeito: não estragariam nossa festa. Então, sempre pra frente, caminhando. Uma explosão, um incêndio, algo infernal. Uma loucura, as roupas voando, ganhando vida. Assim a gente ficando como nasceu, embrulhados, rolando na grama, lado a outro, barco sem rumo, já você corpo e alma abertos. Uma explosão, estouro de boiada, barco sem rumo. Perto da Sete de Setembro o batalhão de choque. Tempo não houve pra nada. Na correria, o choque, porradas de todos os lados, depredávamos coisas, numa vingança inútil. Quanto mais quebrávamos o que aparecia pela frente, mais pancadas levávamos. Então, Marília, veio a última força, o desequilíbrio final, o gemido derradeiro, de coração, sangue, nervos e ossos, tudo descompassado. Você soltou um gemido agudo. Caí para o lado, atordoado, semimorto. Você desfalecida, semimorta, o rosto de encontro à grama enxuta. Cai para um lado, repito, atordoado, semimorto, uma dor na nuca. Ao olhos embaçados, vendo os colegas apanhando. Um medo repentino, como um doido corri. Numa esquina eu vi Marcos, eu vi Marcos e o sangue e ouvi mais um tiro. Por quê? Táxi, Táxi! Ofensa terrível. Quisera estar com eles, com meus colegas, sofrer o que sofreram. Nem sequer ouvi as reclamações dos parentes, os aperreios de minha mãe. Ao olhos parados, tristes, acovardados. Não falar nunca mais, mudez só quebrada pelo barulho dos sapos. Nunca mais, Marília, ver você de olhar claro, de sorriso meigo. Nunca mais que eu me interesse por nada, porque eu fugi com medo. Fugi de você, levantei-me e saí sem olhar pra trás. Você, agora, morta pra sempre, como Marcos naquela maca, servindo de bandeira, de estímulo ao histerismo. A vista queimando, fixando-se na lâmpada acesa do quarto, relembrando cenas inquietantes. Tão moço eu, Marília, e já com duas grandes derrotas na vida.

Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.





segunda-feira, 20 de junho de 2011

CARISMA


MÚSICA: DOUGLAS MENEZES – JORGE QUEIROZ

Essa morena enfeitada de açucena

Que debocha e não tem pena

Do sofrê que chora triste.

Essa morena cheia de dengo menina

Só inspira rima rica

E o amor que não existe.

O vento passa tira palha do coqueiro

Faz revolta em seu cabelo

Faz amor no corpo dela.

Quem dera um dia passear no céu azul

Com a morena enfeitada

Sobre o mar de Gaibu.

Eu vejo o dia clareando com preguiça,

Se espreguiça a morena vendo vida a cismar.

Quem dera um dia me encantar num passarinho

Bater asas ao seu lado

E no mar fazer meu ninho.


Canção composta em 1992.

Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de letras. 




terça-feira, 24 de maio de 2011

THEO SILVA NO SEXTA DE LETRAS


Poeta cabense Theo Silva


A Academia Cabense de Letras prossegue com o Projeto SEXTA DE LETRAS, dia 3 de junho, às 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo. Na primeira sexta-feira do mês de junho realizará reunião aberta ao público, com palestra e debate sobre a Obra e a vida de Theo Silva, poeta cabense, tragicamente desaparecido em 1950.

Na noite do dia 3 de junho de 2011 a Academia Cabense de Letras inicia o resgate da obra de um de seus maiores poetas, THEO SILVA, que era também músico, seresteiro e encantava as ruas da cidade nas décadas de vinte, trinta e quarenta, em noites boêmias regadas a poesia e música de qualidade.

THEO SILVA fazia, na cidade do Cabo, ainda na década de 20, uma poesia que estava sendo lançada na Semana de Arte Moderna, em São Paulo, por grandes mestres da poesia brasileira. Lembrando, claro, que as poesias de THEO se revestem de um valor especial pelo fato de não haver meios de comunicação que possibilitasse a ele acompanhar o desenrolar do Movimento Literário que eclodia em São Paulo. A sua poesia brotava de sua natural inclinação pela quebra das regras conservadoras que norteavam a poesia. Foi um poeta além de seu tempo e de seu espaço geográfico. THEO SILVA foi músico integrante da Filarmônica XV de Novembro Cabense entre os anos de 1925 e 1935.

O evento acontece no dia 3 de junho, às 19 horas, na Câmara de Vereadores do Cabo de Santo Agostinho, com apresentação dos acadêmicos Ivan Marinho e Antonino Oliveira Júnior e a participação dos demais membros. Na oportunidade, a Academia homenageia THEO SILVA, que é um de seus Patronos, com a presença de seu filho Theo Silva Filho e familiares.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O CONFRADE JOAQUIM NABUCO



Trechos do discurso pronunciado por Joaquim Nabuco na Sessão inaugural da Academia Brasileira de Letras, em 20 de julho de 1897, na qualidade de Secretário Geral.

Não há em nosso grêmio omissão irreparável; a morte encarrega-se de abrir nossa porta com intervalos mais curtos do que o gênio ou o talento toma para produzir qualquer obra de valor. Nós, os primeiros, seremos os únicos acadêmicos que não tiveram mérito em sê-lo, quase todos entramos por indicação singular, poucos foram eleitos pela Academia ainda incompleta, e nessas escolhas cada um de nós como que teve em vista corrigir a sua elevação isolada, completar a distinção que recebera; só agora em diante, depois que a Academia existir, depois de termos uma regra, tradições, emulação, e em torno de nós o interesse, a fiscalização da opinião, a consagração do sucesso, é que a escolha poderá parecer um plebiscito literário. Nós de fato constituímos apenas um primeiro eleitorado.
As Academias, como tantas outras coisas, precisam de antiguidade. Uma Academia nova é como uma religião sem mistérios: falta-lhe solenidade. A nossa principal função não poderá ser preenchida senão muito tempo depois de nós, na terceira ou quarta dinastia dos nossos sucessores. Não tendo antiguidade, tivemos que imitá-la, e escolhemos os nossos antepassados.
 Escolhemo-los por motivo, cada um de nós, pessoal, sem querermos, eu acredito, significar que o patrono da sua Cadeira fosse o maior vulto das nossas letras. É a responsabilidade do escritor, a consciência dos seus deveres para com sua inteligência, o dever superior da perfeição, o desprezo da reputação pela obra.
Eu pela minha parte não sei que ópera não daria por uma só frase de Mozart ou de Schumann; trocaria qualquer livro por uma dessas palavras luminosas que brilham eternamente no espírito como estrelas de primeira grandeza... A obra de quase todos os grandes escritores resume-se em algumas páginas; ser um grande escritor é ter uma nota sua distinta, e uma nota ouve-se logo; de fato, ele não pode senão repeti-la.”

(Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo)


segunda-feira, 2 de maio de 2011

A FLIGUARA FOI UM SUCESSO


I FLIGUARA mostrou aos alunos da rede pública universo da cultura

Estudantes estiveram na Primeira Feira Literária dos Guararapes, no Mirante dos Montes Guararapes

Por quatro dias Jaboatão dos Guararapes experimentou ser a cidade da literatura em Pernambuco. Iniciada dia 28, encerrou do dia primeiro de maio a Fliguara – Feira Literária dos Guararapes, em dua primeira edição.

Montada no mirante do exército, nos Montes Guararapes, a Feira não se limitou aos stands de vendas de livros. Quem foi à Fliguara – especialmente alunos das redes públicas estadual e municipal –, pode bater papo com autores, participar de oficinas de contos, crônicas e poesias, ouvir palestras e ter um contato mais direto com a cultura, por meio de shows, apresentações e brincadeiras promovidos no local.

A feira, promovida pela Prefeitura Municipal de Jaboatão e Andelivros, foi aberta solenemente dia 28, com a presença da secretária de Desenvolvimento Social, Mirtes Cordeiro, Secretário de Executivo de Cultura e Eventos, Ivan Lima Filho, e Secretária Executiva de Educação, Edilene Soares. Na mesa de honra também o Dr. José Luiz de Almeida Melo, que dissertou sobre o poeta Benedito Tavares da Cunha Melo, cujo centenário de nascimento é comemorado este ano e homenageado da Fliguara; Celinha Santos, Gerente de Cultura, Nildo Barbosa, coordenador da Fliguara, Cobra Corderlista, presidente do Conselho de Cultura e Natanael Lima, Curador da Fliguara.

Após a solenidade, o veterano poeta Chico Pedrosa apresentou um recital de poesia matuta.

Mesmo dentro das festividades da Festa da Pitomba, Mirtes Figueirôa ressalta a independência da Fliguara: “Vamos consolidar como um grande momento da literatura do Estado Pernambuco”

Já Ivan Lima avaliou a Fliguara como um legado que é passado para a população: “É uma parte da cultura de Jaboatão que estava adormecida e que o evento permitiu que ela pudesse ser revivida.



quarta-feira, 6 de abril de 2011

JABOATÃO TERÁ A SUA FEIRA LITERÁRIA

           Igreja de Nossa Senhora dos Prazeres dos Montes Guararapes - Jaboatão dos Guararapes / PE



Jaboatão dos Guararapes anuncia a realização da I Feira Literária de Jaboatão dos Guararapes, FLIGUARA. Será realizada no período de 28/04 à 01/05, no Parque Histórico Nacional dos Guararapes. A referida Feira fará parte da extensa programação da Festa Cultural da Pitomba de 2011. Dentre as novidades programadas para Feira Literária - Fliguara teremos: Oficinas (Poesia, Conto e Crônica), paletras, mesa redonda, bate papo literário, recitais, exposição e feira de livros das principais editoras do estado. Estão sendo contactados vários escritores que farão parte da programação da Fliguara, entre eles, Ariano Suassuna, Raimundo Carrero, Juareiz Correya, Douglas Menezes, Miró, Antonio Campos, Marcus Accioly, Jessié Quirino, entre outros. Várias temáticas serão abordadas, algumas já podemos adiantar como o centenário de nascimento do poeta Benedito da Cunha Melo, arte e cultura para todos, a poesia pernambucana, a importância do Conselho de Cultura e a discussão sobre a fundação da Academia Jaboatanense de Letras. A Produção Executiva da Fliguara será da Secretaria de Desenvolvimento Social/Bagaço, a Coordenação ficará a cargo da Secretaria Executiva de Cultura e Eventos e tendo como Curadores o poeta Natanael Lima Jr, Prof. Nildo Barbosa e a Diretora de Cultura Celinha Varejão. Em breve comunicaremos a todos a programação definitiva da Fliguara/2011.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

ACL VISITA FAMÍLIA DO POETA THEO SILVA


                        Iede, neta de Theo Silva, ladeada por Theo Filho e Frederico Menezes



              Theo, filho do poeta THEO SILVA 

Frederico Menezes, Jairo Lima e Antonino Oliveira Júnior, membros da Academia Cabense de Letras, visitaram, neste sábado, 2 de abril, a família do grande poeta Theo Silva, um doa patronoa da Academia. No bairro de Jardim São Paulo, o grupo foi recebido pela família de Theo Silva Filho, que colocou-se à disposição da Academia no que for preciso para que se concretize o resgate de importantes figuras do universo literário do Cabo de Santo Agostinho.

No mês de maio, a Academia Cabense de Letras deve homenagear o THEO SILVA, que é um dos seus Patronos, dentro do Projeto Sexta de Letras na sua versão 2011, que acontece na Câmara de Vereadores, sempre na primeira sexta-feira de cada mês.

O encontro aconteceu na residência de Theo Filho, com toda a família reunida, por toda a manhã do sábado. No final, a família cedeu alguns documentos do poeta Theo Silva e fotos, que serão usados no livro sobre a Obra do poeta, a ser editado e lançado pela Academia Cabense de Letras.

Além de confirmarem presença no dia da homenagem a THEO SILVA, Theo Filho e familiares deixaram claro a intenção de retribuirem a visita dos acadêmicos, inclusive, para conhecerem a Praça que leva o nome do grande poeta THEO SILVA, que faleceu aos 42 anos de idade, em acidente de trem, na cidade de Carpina.