quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

NA SALA DE AULA, MESTRE GRACILIANO E A INTERTEXTUALIDADE

Por DOUGLAS MENEZES

Não é fácil, hoje, estimular no estudante de nível médio o interesse pelo texto literário. Às vezes, num momento de pessimismo exagerado, achamos ser esta geração um amontoado de seres perdidos, invertendo os verdadeiros valores humanos. Um punhado de gente vazia, superficial, incapaz de analisar, por mais simples que seja, um tema, um conteúdo qualquer. Geração sem cabeça, ao sabor da instantaneidade e de ações inconsequentes. Espantosa visão apocalíptica, esta. Nesse pesadelo, como encaixar, ao menos, uma tentativa, no meio dessa massa alheia, de realização de um trabalho literário? Pensamos nós, nos instantes de negativismo insolúvel. Mundo sem saída. Resposta inexistente para a equação.

Junte-se a isto, salas abarrotadas, salários aviltantes. Omissão dos pais, preocupados, tão-somente, com o dia asfixiante na luta pela sobrevivência.

Depois, apimentando a receita do bolo catastrófico da Educação no Brasil, a tecnologia e os meios de comunicação contribuindo com informações “mastigadas”, esperando apenas a ingestão, sem maiores questionamentos, pois pensar, dói.

No entanto, o raciocínio depressivo, felizmente, vai-se dissipando e, embora não haja luz, nem sequer túnel, há aquilo que não devemos esquecer nunca: a crença em que, de uma forma ou de outra, podemos contribuir para que “as coisas” melhorem um dia. Até porque, aqui e ali, a manhã começa a chegar, tênue amanhecer pedagógico. Na certeza de fazermos dos inimigos, aliados, ferramentas de apoio. Não sermos tão retrógrados, que não possamos avançar; nem tão avançados que esqueçamos a tradição, também necessária na luta pelas ações transformadoras.

Passado o ranço da desesperança, vislumbramos a possibilidade de incutir no jovem estudante, a Literatura como objeto de seu interesse.

Se é tarefa quase hercúlea, deve, ao mesmo tempo, ser função do professor de Português não deixar o ensino da Língua tornar-se, na verdade, alvo da alienação crescente junto ao educando mais novo. Fundamental reagir, politizar de forma democrática, mas levando em consideração, a experiência a ser passada, o professor um leme, um guia que escuta, crendo entrar no caminho que julga correto. Influenciar aquele que necessita aprender e apreender de modo positivo a discernir e aprofundar conhecimentos.

Aparece, então, a primeira pergunta: é possível criar no aluno um interesse maior pela Intertextualidade, já que esse conteúdo tornou-se fundamental na compreensão do texto literário?

A Intertextualidade já existe em alguns compêndios ( que palavra! ) da Língua Portuguesa do antigo segundo grau, um pouco sistematizada, porém, ainda assim, incipiente. É como se houvesse um certo receio em mexer com o mito da originalidade autoral. Remeter um texto a um outro, matriz, na visão conservadora, pode macular as obras de alguns “monstros sagrados”. E o Ensino Médio é bastante recalcitrante nesse ponto: não gosta muito de bulir em feridas recém-abertas.

No entanto, deve-se, pelo contrário, mostrar como a Intertextualidade é apaixonante, comprovando que o diálogo entre textos não torna nenhum autor menos criativo ou plagiador, demonstrando ser a Literatura um conjunto de contribuições, de acréscimos àqueles troncos iniciais, aquilo diferente e comuns a todos os textos, na visão de que não há escritos adâmicos. Essa prática deixaria menos enfadonha a análise dos estilos literários, presa à rigidez de datas e características nem sempre verdadeiras dentro do pragmatismo do texto artístico. Há modernismo em obras do passado; bem como passado em outras modernas. A verdade é que a Intertextualidade traz maior dinamismo ao fazer literário. Retira todo o engessamento da velha teoria dos estilos de época, que devem ser estudados sempre em um vai-e-vem: passado, presente e perspectiva para o futuro.

Nessa linha, poderíamos motivar o Ensino Médio. Afastá-lo dessa concepção estática que ainda, salvo exceções, em relação à prática pedagógica da Literatura. Assim, a sonolenta concepção secular de não achar ligações entre as diversas épocas, daria lugar à criativa interação entre períodos e autores, valorizando-se, sobremodo, o diálogo entre textos. Sendo esse estudo bem conduzido, não deixaria margens à visão simplória de que tudo se imita, passando o adolescente a enxergar essa “imitação” como uma reescritura criativa de temas já produzidos, residindo aí, a criatividade maior. Seria o primeiro passo: eliminar qualquer visão preconceituosa em relação à Intertextualidade na sala de aula.

O aluno, nesse primeiro momento, deve entender a Intertextualidade como um exercício analógico, já que, provavelmente, possui ele uma experiência desse tipo durante sua vida antes da escola. Com efeito, para um principiante, atividades indicando semelhanças no diálogo entre os textos, seriam um bom começo, pois analisar teoria pelas diferenças comporta um aprofundamento não encontrado nos adolescentes.

Essencial é ativar a curiosidade do estudante, fazendo-o trabalhar uma variada quantidade de textos e de autores diferentes, ocasionando a inclusão do diálogo textual no dia a dia da sala de aula, mostrando ser algo positivo o relacionamento intertextual para a compreensão da escrita literária.

A partir daí, podemos trabalhar, com os alunos do Ensino Médio, os textos de Graciliano Ramos. Sendo bom lembrar, ser esse trabalho precedido de um conhecimento prévio sobre a Intertextualidade. Assim, para o docente, não deve parecer estranho o uso do termo, pois ele fará, constantemente, um exercício de diálogo.

Depois, os livros São Bernardo e Angústia, logo no início do ano, devem ser indicados como paradidáticos. Os alunos, assim, teriam tempo necessário de, pelo menos em um semestre, manusear as obras, havendo também, a necessidade do conhecimento biográfico do autor e alguma coisa sobre seu estilo, estabelecendo uma visão, ainda que superficial, de toda a obra do mestre alagoano. O professor é fundamental nessa tarefa, à medida que deve ser um elemento motivador na prática da leitura. A ideia geral sobre a obra de Graciliano, repito, é fundamental. Por exemplo, ao falarmos da linguagem enxuta dos dois livros em pauta, não criaremos estranheza aos alunos, veriam isto com naturalidade, como marca do artista.

Além disso, o professor pode chamar a atenção para um aspecto comum nos dois romances de Graciliano Ramos, Angústia e São Bernardo, e que, com certeza, por ser um sentimento típico do ser humano, tornará mais fácil a análise intertextual dos textos. Trata-se da presença do ciúme nos dois livros, que de resto sempre foi tema encontrado na Literatura Universal. Os dois personagens principais, Paulo Honório em São Bernardo, e Luís da Silva em Angústia, a seu modo, expressam um ciúme paranoico, que gera duas tragédias pessoais: a morte da esposa Madalena em São Bernardo, que se suicida diante da pressão do marido; e a perda da noiva Marina para o comerciante Julião Tavares, levando Luís da Silva a assassinar o rival. Todo esse processo de desconstrução dos dois personagens é seguido de uma desagregação psicológica degenerativa, sem volta e facilmente compreendida por quem faz a leitura das duas obras.

E aí, um outro romance, de dimensão grandiosa dentro da Literatura Brasileira, pode servir como mais um elemento comparativo para o estudante de nível Médio: Dom Casmurro, de Machado de Assis, a sua maneira, traz o ciúme, a desconfiança, como um dos temas centrais, havendo, nesse momento, a possibilidade, de uma análise formal entre os três livros: a mesma escrita enxuta é encontrada nas obras maiores dos dois escritores. Linguagem carregada de essencialidade. Temáticas semelhantes, abordagens diferentes, em Machado e em Graciliano, parecidos os dois, e, ao mesmo tempo, díspares, pois cada um com sua personalidade própria de escritor.

O passo seguinte e definitivo, é fazer um estudo da Intertextualidade, mostrando o dialogismo dentro da obra de um mesmo autor. Dois escritores poderiam servir de modelo nesse exercício: José Lins do Rego, na prosa, e Manuel Bandeira, na poesia. Ambos ricos em relação à Intertextualidade.

Afora isso, lembremos de outras expressões artísticas sobre a obra de Graciliano Ramos. Vidas Secas, São Bernardo e Memórias do Cárcere são livros adaptados para o cinema que, pela qualidade, acrescentam, e muito, algo mais sobre a produção do gênio alagoano. O teatro é outra expressão artística que poderia ser utilizada pelos alunos em um estudo na forma de monólogo, principalmente com relação a Angústia e São Bernardo.

Por fim, recordar a contemporaneidade do Mestre Graça. Sua atualidade, mostra, sobretudo, o autor que ultrapassou o seu tempo. Como o mago Machado de Assis, demonstrou que os dramas humanos vão além de um período histórico, inserem-se naquela visão de que grandezas e mesquinharias acompanharão o homem, independendo da época e que sempre valerá a pena estudar um artista como Graciliano, que produziu um trabalho de humanismo ímpar e que dificilmente será apagado, por ser regional, brasileiro, mas, principalmente, universal.


DOUGLAS MENEZES É PROFESSOR DA REDE OFICIAL E PARTICULAR DE PERNAMBUCO, FORMADO EM LETRAS E EM COMUNICAÇÃO SOCIAL. ESPECIALISTA EM LITERATURA BRASILEIRA E EM LEITURA, COMPREENSÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL.

EMAIL: douglasmenezesnet@gmail.com

domingo, 14 de outubro de 2012

Como é grande o meu amor por você!

 
Antonino Oliveira Júnior.*

 
Às vezes nem sei o que sinto,

Se é ciúme ou raiva;

Tu , que me tens de tanto tempo

Te entregas a aventuras,

A coisas passageiras;

E sinto raiva

Quando te vejo amorosamente caída

Em braços sem ternura;

Quando te entregas

A quem te usa e depois te descarta.

O ciúme fere-me a alma

E uma lágrima morna rola em meu rosto

E eu sofro,

Como quem vê distante um grande amor;

E relembro todos os nossos momentos

Na quietude de tempos outros

Das juras de amor eterno, da cumplicidade;

 
Não gosto de ver-te assim, como estás...

 
Sinto raiva de quem te machuca

E, ainda que, morto de ciúmes,

Queria colocar-te todinha em meu colo

E falar baixinho ao teu ouvido:

 
“Ah, minha cidade,

Como é grande o meu amor por você!”
 
Antonino Oliveira Junior é membro da Academia Cabense de Letras

sexta-feira, 1 de junho de 2012

GUERRA E PAZ ENTRE OS TRÊS PODERES



Segundo Antipatro de Sidon, as sete maravilhas do mundo antigo eram: o Templo de Artemis, as Pirâmides de Gizé, o Mausoléu de Halicarnasso, os Jardins suspensos da Babilônia, o Farol de Alexandria, a Estátua de Zeus Olímpico e o Colosso de Rhodes. As sete do mundo moderno, de acordo com o Dr.Pangloss, são: o facebook, o futebol, o funk, as telenovelas, o big-brother, o direito de permanecer calado e a pizza.

A democracia e o sistema republicano ainda não fazem parte dessas maravilhas, mas são as melhores invenções que temos para, salvo melhor juízo, usufruirmos da cidadania. Uma boa República (com "R" Maiúsculo como a nossa) é formada pela união indissolúvel das partes e fundamentada no pluralismo político. Os poderes da boa República não advêm da força, mas da independência e harmonia entre o Legislativo, o Judiciário e o Executivo, assim chamados os Três Poderes da teroria consagrada pelo pensador francês Montesquieu em "O Espírito das Leis". O Executivo tem esse nome porque é ele que faz a máquina funcionar. O chefe (ou chefa) do Executivo é uma espécie de maquinista no estrito cumprimento e desempenho do serviço público. É o executor, o encarregado de executar (no bom sentido, pois executar pode significar tocar um instrumento, cantar um bolero ou matar alguém; não é o caso!). Por que três poderes e não quatro, dois, ou nove? O ternário é o ternário, ora essa!, sempre fascinou a inteligência humana: o triângulo é a figura da geometria plana que tem o menor número de lados, o protótipo da economia de retas e de ângulos. Uma mesa, para ficar em equilíbrio, tem de ter, no mínimo, três pés (um tripé), fato que promove imediata estabilidade. A mesa de quatro pés precisa ser equilibrada em prumo e nível a custo de muita medição e lixa para não ficar bonita, mas cocha. O sistema dos três Poderes funciona como o tripé - faz o equilíbrio instantâneo pela força do Direito, sem a necessidade de ajustes aqui e cochichos ali. Se faltar ou fraquejar um desses Poderes, a república cai para “r” minúsculo e só poderá ser mantida pelo direito da força. Fragilizam-se pernas, primeiro pelo deboche e descrédito. Depois, a desmoralização. O ataque frontal é simples consequência e o bruto vence sob o aplauso do populacho. Vejam esses exemplos:

Em 2 de Junho de 1793, a população de Paris, agitada pelos partidários de Jacques Hébert, redator do Père Duchesne, cercou o prédio da assembleia, pedindo a expulsão e prisão dos deputados girondinos. Hébert pressionou o regime jacobino para instituir o Reino do Terror. O líder jacobino Robespierre (chamado “O Incorruptível”) tornou-se, com amplo apoio popular, um autêntico “executor”: sancionou execuções sumárias, condenando à morte mais de duas mil pessoas. E anunciou que a França não necessitava de juízes, mas de guilhotinas. O populacho recebeu às mancheias o que havia pedido.

No nosso século, o então Partido Social Democrata Alemão obteve grande vitória eleitoral em 1928 e formou um governo de coalizão com os partidos populares e de centro. Em 27 de fevereiro de 1933, o Reichstag (prédio do parlamento em Berlim) foi incendiado, dando ensejo ao estabelecimento da Alemanha nazista. Botaram a culpa em Marinus van der Lubbe, um estudante rebelde vindo da Holanda, e ponto final. Adolf Hitler, empossado como chanceler, incitou o Presidente Hindenburg a passar um decreto de emergência visando “manter a ordem no país”. Dessa forma, os nazistas foram consolidando o sistema totalitário. Cassados todos os parlamentares comunistas e democratas, os nazistas obtiveram maioria no parlamento onde apresentaram a “lei de Autorização” que revogava a Constituição em vigor e autorizava o governo nazista a ditar leis sem a necessária aprovação dos deputados. Em seguida, voltaram-se contra o Judiciário: os juízes foram obrigados a afirmar que "Hitler é a lei!". Com a Lei de Serviços Civis de 7 de abril de 1933, foram afastados os juízes que não estavam "aptos" a trabalhar em favor do Estado nacional-socialista. Os juízes remanescentes foram manipulados para desrespeitarem a lei em favor do nazismo de Hans Frank, comissário de Justiça e líder Jurídico do Reich. Advogados, funcionários da justiça e magistrados foram obrigados a associar-se à Liga Nacional-Socialista dos Juristas Alemães sob pena de perderem seus cargos e registros profissionais. A imprensa ficou sob o controle pessoal de Hitler, tornando-se porta-voz do governo através do propagandista Goebbels. Os partidos de oposição e os sindicatos independentes foram dissolvidos. Todos os indivíduos contrários a ideologia nacional-socialista foram presos, deportados ou executados. Isso sem falar nas teorias raciais e suas consequentes perseguições nos diversos âmbitos da sociedade. O novo Estado foi reorganizado em sociedades e corporações inspiradas no conceito de vril, o poder da raça futura. A indústria pesada recebeu incentivos para se adaptar à fabricação de material bélico. A essas manobras se seguiram-se a Sondergericht, cortes especiais compostas de juízes da confiança do partido, as cortes populares de juízes profissionais e funcionários do partido nazista, a SS e a Wehrmacht.

Num piscar de olhos...

É assim que se transforma um Executivo em poder executante – na melhor das hipóteses, o poder daquele que executa ou canta uma péssima composição musical. Na Alemanha foi Horst Wessel Lied, hino da suástica; na Itália, a Giovinezza dos camicie nere, na Rússia bolchevique, a Internazional.

Segura daqui e segura dali, e ainda insistem na exportação e importações dessas ideias de força pela força.

- Da minha parte, prefiro ouvir o brado retumbante de um povo heróico, às margens plácidas do Ipiranga, com paz no futuro e glória no passado! – sem instrumentos dissonantes soprando na hora errada e em lugares impróprios.

José Maurício Guimarães

http://zmauricio.blogspot.com.br/

sábado, 14 de abril de 2012

sexta-feira, 16 de março de 2012

SANTA MARIA ! E LA CONSOLACION? (Resistir é preciso)


Antonino Oliveira Júnior


"Na primeira noite
eles se aproximam..."

São os invasores
que nos dominam
e nos querem passivos e submissos.
E como tu os abraça!

Os teus filhos nativos
sofrem dores e pesadelos
por eles impostos.
E como tu os repudia (os filhos)

Santa Maria!
quando será "La Consolacion"
dos que saíram de teu ventre,
dos que te amam de verdade?

Em mim já não cabe essa tristeza
(cabe em alguém a tristeza do mundo todo?)
e explode a revolta do filho maltratado.

"Jerusalém, Jerusalém..."
E se nada fizermos agora
nada mais vamos poder fazer.

Antonino Oliveira Júnior é da academia Cabense de Letras