Trechos
do discurso pronunciado por Joaquim Nabuco na Sessão
inaugural da Academia Brasileira de Letras, em 20 de julho de 1897, na
qualidade de Secretário Geral.
“Não há em
nosso grêmio omissão irreparável; a morte encarrega-se de abrir nossa porta com
intervalos mais curtos do que o gênio ou o talento toma para produzir qualquer
obra de valor. Nós, os primeiros, seremos os únicos acadêmicos que não tiveram
mérito em sê-lo, quase todos entramos por indicação singular, poucos foram
eleitos pela Academia ainda incompleta, e nessas escolhas cada um de nós como
que teve em vista corrigir a sua elevação isolada, completar a distinção que
recebera; só agora em diante, depois que a Academia existir, depois de termos
uma regra, tradições, emulação, e em torno de nós o interesse, a fiscalização
da opinião, a consagração do sucesso, é que a escolha poderá parecer um
plebiscito literário. Nós de fato constituímos apenas um primeiro eleitorado.
As Academias,
como tantas outras coisas, precisam de antiguidade. Uma Academia nova é como
uma religião sem mistérios: falta-lhe solenidade. A nossa principal função não
poderá ser preenchida senão muito tempo depois de nós, na terceira ou quarta
dinastia dos nossos sucessores. Não tendo antiguidade, tivemos que imitá-la, e
escolhemos os nossos antepassados.
Escolhemo-los por motivo, cada um de nós,
pessoal, sem querermos, eu acredito, significar que o patrono da sua Cadeira
fosse o maior vulto das nossas letras. É a responsabilidade do escritor, a
consciência dos seus deveres para com sua inteligência, o dever superior da
perfeição, o desprezo da reputação pela obra.
Eu
pela minha parte não sei que ópera não daria por uma só frase de Mozart ou de
Schumann; trocaria qualquer livro por uma dessas palavras luminosas que brilham
eternamente no espírito como estrelas de primeira grandeza... A obra de quase
todos os grandes escritores resume-se em algumas páginas; ser um grande
escritor é ter uma nota sua distinta, e uma nota ouve-se logo; de fato, ele não
pode senão repeti-la.”
(Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo)
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