terça-feira, 15 de dezembro de 2009

HÁ 32 ANOS

Não é fácil esquecer o dia 8 de setembro de 1977. Cansados de produzir sem ter apoio do governo municipal, os atores e técnicos da arte cênica do município do Cabo decidiram por abrir a boca e denunciar o descaso. Eram os anos de chumbo da ditadura militar, governando o Brasil com autoritarismo e mão-de-ferro. O medo era a tônica em todos os recantos do país, mas a arte era um dos focos importantes da resistência democrática. E aqui, no Cabo, essa resistência era muito forte, pelo próprio contexto do município, uma célula do esquerdismo e das oposições ao regime. Como era costume na época, os prefeitos da ARENA eram adjuntos, eram braços dos ditadores e perseguiam quem sonhasse em ser diferente. Fazíamos um teatro engajado com as lutas democráticas, com a resistência dos estudantes, ao lado de parte da igreja e de políticos comprometidos. Os Grupos de teatro fundaram a Associação Cabense de Teatro Amador (ACTA), uma entidade que aglutinava e tornava mais forte os ideais dos artistas cabenses. Ninguém agüentava mais o desleixo com a cultura e o descaso com as nossas produções, pois os artistas eram tratados como seres inferiores por eles. Nossa rica produção fazia com que Pernambuco e outros Estados do Nordeste reconhecessem nossos trabalhos: Prostivida, O Santo e a Porca, A Incelença, Os Escravos, Quarto de Empregada, eram algumas das montagens que encantavam o público daqui e de fora. Com a chegada de setembro, a decisão tomada dentro da ACTA: vamos fazer uma passeata (poucos ousavam na época) e denunciar esse descaso através de uma Carta aberta à população. O dia 8 de setembro de 1977 foi escolhido como o Dia D. Logo pela manhã nos reunimos na avenida historiador Pereira da Costa e às 8 horas marchamos para o centro da cidade, distribuindo a Carta Aberta e convocando a população para ser solidária à nossa luta. Em frente à Prefeitura, ocupamos a praça e um banco para fazer, sem som e sem microfone, mas usando técnicas de teatro, um pronunciamento sobre a nossa caminhada de protesto. Incomodado pela ousadia dos jovens cabenses que decidiram fazer das ruas o palco ideal para as lutas contra o autoritarismo tupininquim, o prefeito, que procurava imitar a truculência dos seus “patrões” militares, acionava a polícia para coibir o movimento. Eram dez horas e já estávamos em frente ao prédio onde hoje funciona o teatro Barreto Júnior quando um camburão da polícia civil encostou e os artistas eram jogados dentro do pequeno espaço que servia para amontoar presos. Alguns artistas conseguiram correr, mas 18 deles, dentre os quais falo com orgulho que eu estava, foram presos e levados para a Delegacia local. Foi um dia tenso, com o entra e sai de políticos de oposição e o amontoado de famílias em frente à Delegacia. E todos nós, artistas, trancafiados em celas. 15 homens e 3 mulheres. Bravos jovens, meninas guerreiras, que não recuaram um centímetro sequer de suas convicções, entrando para a história da cidade. Há 32 anos, comecei, também, a olhar de modo diferente para aquela atriz morena, magrinha, ousada. Era Luiza. Enamorados, começamos a percorrer uma bela estrada de amor. Ah...mas isso é outra história. E ela está só começando. Antonino Oliveira Júnior, é escritor, poeta, evangélico da Igreja Batista da Cohab e membro da Academia Cabense de Letras.

Nenhum comentário: