sexta-feira, 30 de julho de 2010

FILOSOFIA DA RENASCENÇA

(do século XIV ao século XVI) É marcada pela descoberta de obras de Platão desconhecidas na idade média e de novas obras de Aristóteles, que passam a ser lidas em grego e a receber novas traduções latinas, mais acuradas e fiéis. A época também se dedica a recuperação das obras de grandes autores e artistas gregos e romanos e à imitação deles. São três as grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença: a) Aquela proveniente da leitura de três diálogos de Platão (Banquete, Fédon e Fedro), das obras dos filósofos neoplatônicos e da descoberta do conjunto dos livros do hermetismo ou da magia natural, que se supunham terem vindo do Egito, escritos séculos antes de Moisés e de Platão, ditados por deuses e seus filhos humanos. A natureza era concebida como um grande ser vivo, dotada de uma alma universal (a alma do mundo) e feita de laços e vínculos secretos entre todas as coisas, unidas por simpatia e desunidas por antipatia. O homem era concebido como parte da natureza e como um microcosmo no macrocosmo (isto é, um pequeno mundo que espelha e reproduz a estrutura e a vida do grande mundo, ou o Universo) e por isso pode agir sobre o mundo e por meio de conhecimentos e práticas que operam com as ligações secretas entre as coisas, isto é, por meio da magia natural, da alquimia e da astrologia. b) Aquela originária dos pensadores florentinos, que valorizava a vida ativa (a política) e defendia a liberdade das cidades italianas contra o Império Romano-Germânico, isto é, contra o poderio dos papas e dos imperadores. Na defesa da liberdade política, recuperaram a idéia de República, tal como esta aparecia nas obras dos grandes autores políticos latinos, como Cícero, Tito Lívio e Tácito, bem como nos escritos de historiadores e juristas clássicos e, propuseram a “imitação dos antigos” ou o renascimento de república livre, anterior ao surgimento do império eclesiástico. c) Aquela que propunha o ideal de homem como artífice de próprio destino, tanto por meio dos conhecimentos (astrologia, magia, alquimia), como por meio da política (o ideal republicano), das técnicas (medicina, arquitetura, engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, poesia e teatro). Essas três grandes linhas de pensamento explicam porque se costuma falar em humanismo como traço predominante da Renascença, uma vez que nelas o homem é valorizado, colocado como centro do Universo, defendido em sua liberdade e em seu poder criador e transformador. A intensa atividade teórica e prática dessa época foi alimentada com grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à igreja Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na idéia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja Romana respondeu com a Contra-Reforma e com o aumento do violento poder da Inquisição. Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campannella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomás Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa. Chauí, Marilena; Convite à Filosofia. São Paulo. Atica, 2005.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

UMA ELEIÇÃO MEMORÁVEL

Douglas Menezes
Corria o ano de 1972. Anos de chumbo aqueles daquela década. Tortura, mortes e medo, muito medo. Ser oposição ao regime militar era tarefa para fortes, para as pessoas que possuíam, acima de tudo, uma consciência democrática e capacidade de doação acima de suas conveniências pessoais. Aquelas que são úteis e imprescindíveis porque lutam a vida inteira. São os que sacrificaram a própria vida para que hoje respiremos os ares democráticos da ainda incipiente democracia brasileira.
Pois bem. Naquele ano, haveria eleição para prefeito. Forma que a ditadura encontrou para dar um feitio democrático ao regime de exceção, já que não havia pleito nem para governador, presidente ou governante das capitais. E a cidade do Cabo de Santo Agostinho era uma das mais visadas pela sua importância econômica e, sobretudo, por sua politização e pelo fato representar um dos centros da resistência democrática. Uma cidade em que o governo não admitia sair derrotado.
Já naquela época, o instituto da sublegenda funcionava a todo vapor. Instrumento criado para dificultar o avanço da oposição ao regime, consistia na soma de votos de um partido que poderia eleger um candidato mesmo sendo ele o menos votado. Com isso, o governo lançou, na eleição do Cabo, dois candidatos: José Feliciano de Barros e Vicente Mendes Filho, pela Arena, partido governista; enquanto a oposição ia de Lúcio Monteiro e José Ribeiro de Jesus.
Sem dinheiro, usando um fusca velho e um banquinho para fazer discurso, Lúcio Monteiro conseguiu empolgar o povo, desbravando o caminho para a renovação política do Cabo, além de um aspecto importante: o apelo à conscientização política, abrindo espaço para que o poder econômico influísse menos na eleição. Uma campanha memorável. Lúcio teve mais de cinco mil votos, ganhou do segundo colocado com uma diferença de quase mil e quinhentos votos mas perdeu, porque a soma dos dois candidatos da Arena suplantou sua votação. No entanto, a lição ficou. Uma década depois, um político de esquerda ganhava as eleições no Cabo: Elias Gomes iniciava uma nova era na política cabense.
Os cabenses um pouco mais velhos não podem esquecer esse fato histórico. Após o resultado das urnas, Lúcio foi carregado pelas ruas da cidade, nos braços do povo, que gritava seu nome. Há derrotas que de tão emblemáticas parecem vitórias, pelo seu sentido épico, por representarem a possibilidade real de mudança e a chegada de um futuro melhor para as pessoas. Isto aconteceu e eu vi.
Cabo, 28 de junho de 2010.
*Douglas Menezes é membro da Academia Cabense de Letras.
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